Maristela e seus vizinhos se cotizaram para comprar água de caminhões-pipa em área nobre do Recreio: “Há dois meses não cai nada nas caixas” | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Maristela e seus vizinhos se cotizaram para comprar água de caminhões-pipa em área nobre do Recreio: “Há dois meses não cai nada nas caixas” | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
No Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, a população dribla a falta de abastecimento com escavação de poços artesanais, que virou febre. “Eu e um amigo chegamos a abrir até três minipoços, de até nove metros de profundidade, por dia. Fazemos isso há sete anos”, conta um operário popular na região, que cobra R$ 800 para fazer cada poço.

No bairro, até quem reside em locas mais nobres não escapa da falta d’água. “Eu e meus vizinhos (outras cinco famílias) nos cotizamos para comprar água de caminhões-pipa. Há dois meses não cai água nas caixas”, justifica a professora Maristela Scherer, 50, moradora de um prédio na Rua Venâncio Velozo.
Em Nova Iguaçu, moradores de comunidades pobres, como Jardim da Viga, que sofrem com o desabastecimento e que também dizem não ter recursos para comprar água potável, estão indignados com o que chamam de covardia: uma tubulação da Cedae corta o bairro inteiro para levar água de um de seus reservatórios na região para prédios de condomínios, como o Vitória, na altura do número 1911, na vizinha Estrada Iguaçu. “É um absurdo! A maioria dos 400 moradores daqui (Jardim Viga) pena com a falta d’água, que passa por nós e é levada para condomínios de luxo”, lamentou o presidente da associação de moradores, Ananias Paes.
Família de Ivanise se sente constrangida, mas tem que pedir água a quem tem poço | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Família de Ivanise se sente constrangida, mas tem que pedir água a quem tem poço | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Procura por poço artesiano domésticocresceu 30%
De acordo com a Solus, uma das principais empresas especializadas em perfuração de poços artesianos do estado, consultas para a perfuração de opções domésticas subiram cerca de 30% nos últimos 30 dias, em comparação ao mesmo período no ano passado.
“Recebemos até 10 ligações por dia, principalmente da Zona Oeste e Baixada. Mas nossa empresa, obedecendo à legislação, só escava poços de grande porte, entre 50 e 150 metros, que chegam a custar até R$ 50 mil, para condomínios e fábricas”, explica o geólogo Flávio Pereira.
No Jardim da Viga, porém, são justamente os poços clandestinos que têm aliviado o sofrimento de quem não tem água potável nas torneiras. É o caso da família da cadeirante Ivanise da Silva, de 75 anos. “Somos obrigados a mendigar água de quem tem poços artesianos em casa”, lamenta o genro de Ivanise, o técnico em logística Carlos Augusto da Silva, 41 anos, ao lado da mulher, Mônica, 45.
RISCO DE CONTAMINAÇÃO
A direção da Cedae solicitou informações sobre as queixas dos moradores do Jardim da Viga, mas somente hoje deve se pronunciar sobre o assunto. Já o Inea informou que é necessário que se abra um processo de Autorização Ambiental de Perfuração de Poços no estado. Os documentos exigidos estão no site www.inea.rj.gov.br.
De acordo com o instituto, os poços autorizados devem ser perfurados por empresas credenciadas no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia.
A fiscalização pode existir por parte dos órgãos ligados ao meio ambiente antes, durante ou após a perfuração. Apenas geólogos, engenheiros geólogos, engenheiro de minas ou outro profissional qualificado pelo Crea podem se responsabilizar. Infratores estão sujeitos a penalidades previstas pela Lei de Crimes Ambientais.
Em áreas que possuem abastecimento público, o uso de água de poços é restrito às finalidades que não sejam para o consumo e higiene humana. O Inea alerta que poços irregulares podem absorver águas contaminadas de esgotos ou indústrias, por exemplo, trazendo alto grau de riscos para a saúde.